Público - 13 Out 06
finanças públicas em risco
CE encoraja Portugal a acelerar reforma das
pensões
Isabel Arriaga e Cunha Bruxelas
Envelhecimento da população sem reformas poderá
fazer disparar dívida pública para mais de 500 por
cento do PIB em 2050
Portugal corre um dos mais elevados riscos da União
Europeia (UE) de sofrer uma séria derrapagem das
finanças públicas em resultado do envelhecimento da
população, o que torna imperativo a reforma das
pensões, o aumento da taxa de emprego e a
consolidação das finanças públicas.
Este aviso foi ontem lançado pela Comissão Europeia
na apresentação de uma nova vaga de projecções sobre
os efeitos da evolução demográfica sobre as contas
públicas dos Vinte e Cinco.
Portugal permanece classificado no grupo dos seis
países de "alto risco", com um aumento projectado
dos custos ligados ao envelhecimento da população
equivalente a 10,1 pontos de percentagem do PIB
(Produto Interno Bruto) entre 2004 e 2050. Este é o
segundo pior resultado dos países da União Europeia
(UE), apenas ultrapassado por Chipre (ver quadros).
Para Bruxelas, se o país não reformar o sistema de
pensões e se mantiver a actual fragilidade das
finanças públicas - um défice orçamental superior a
quatro por cento do PIB -, a dívida pública poderá
disparar para o valor exorbitante de 528,2 por cento
do PIB em 2050, contra 63,9 por cento em 2005. O que
constituirá uma pesada herança para as gerações
futuras.
No conjunto dos Vinte e Cinco, a evolução da dívida
será de 63 por cento do PIB em 2005 para 200 por
cento em 2050. Bruxelas considera urgente que os
Vinte e Cinco ataquem o problema em três vertentes.
A primeira é a consolidação das finanças públicas
para a qual Portugal recebe um aviso muito
particular devido ao seu elevado défice. Se atingir
o objectivo de médio prazo de um saldo orçamental
próximo do equilíbrio em 2010 - mas mantendo o
sistema de pensões inalterado -, a dívida pública
subirá "apenas" para 207,6 por cento do PIB.
A segunda vertente passa pela reforma do sistema de
pensões, embora Bruxelas não se pronuncie sobre o
sentido das mudanças a operar.
O estudo foi feito com base na situação dos Vinte e
Cinco até ao fim de 2005 e não tem assim em conta as
reformas anunciadas em Portugal. Joaquin Almunia,
comissário europeu responsável pela economia e
finanças, afirma no entanto que o que conhece sobre
as intenções do Governo o leva a considerar que a
reforma vai "na boa direcção" para reduzir os
encargos com o envelhecimento.
A terceira área de acção assenta no aumento da taxa
de emprego, sobretudo dos trabalhadores mais velhos,
que terão de trabalhar mais tempo de modo a reduzir
o peso financeiro que um número crescente de
inactivos representará para um número cada vez mais
reduzido de activos. Este aviso tem uma particular
incidência em Portugal que, segundo Bruxelas, terá
uma das mais elevadas taxas de dependência (de
inactivos por cada activo): 24,9 por cento em 2004
para 58,5 por cento em 2050.
Três tipos de riscos
Bruxelas divide os Vinte e Cinco em três grupos de
países, consoante os riscos que o envelhecimento da
população representará para a sustentabilidade das
finanças públicas.
Há os países de alto risco, onde se incluem
Portugal, República Checa, Grécia, Chipre, Hungria e
Eslovénia. Com excepção da Eslovénia, são países que
acumulam elevados níveis de défice orçamental e
dívida pública com aumentos importantes dos custos
provocados pelo envelhecimento devido à incipiência
das reformas. Todos precisam de realizar rapidamente
reformas das pensões, enquanto os cinco primeiros
terão de conjugar este esforço com uma consolidação
urgente das finanças públicas.
Seguem-se os países de médio risco : Bélgica,
Alemanha, França, Espanha, Itália, Irlanda, Reino
Unido, Luxemburgo, Malta e Eslováquia.
São países com situações mistas, que ou têm níveis
elevados de endividamento, mas já realizaram
reformas das pensões capazes de conter os custos do
envelhecimento (sobretudo França, Alemanha, Itália e
Eslováquia), ou, em alternativa, países com
orçamentos relativamente sólidos mas que enfrentam
custos elevados ligados à demografia (Espanha,
Bélgica e Irlanda).
Num outro escalão surgem os países de baixo risco:
Dinamarca, Estónia, Letónia, Lituânia, Holanda,
Austria, Polónia, Finlândia e Suécia.
São os países mais avançados nas reformas das
pensões, de uma forma que permitirá conter ou mesmo
reduzir os custos resultantes da evolução
demográfica. Três países (Dinamarca, Finlândia e
Holanda) terão custos relativamente elevados com as
pensões, mas, como mantêm orçamentos em equilíbrio,
os riscos de derrapagem são relativamente reduzidos.