Público - 14 Out 06

MUHAMMAD YUNUS O missionário do microcrédito

 

O banqueiro e economista Muhammad Yunus, 66 anos, acredita que os pobres são ao mesmo tempo devedores de confiança e grandes empreendedores. E é com essa convicção que antevê um só destino à pobreza: "Um dia os nossos netos irão aos museus para ver como era", afirmou numa entrevista dada em 1996 ao diário britânico The Independent.
Formado na universidade da sua cidade natal, Chittagong, Muhammad Yunus doutorou-se em Economia pela conceituada universidade norte-americana Vanderbilt, em 1969, como bolseiro Fulbright, sendo de imediato contratado professor assistente da Universidade do Tennessee. Regressou ao Bangladesh três anos depois, tendo integrado o departamento de Economia da Chittagong University, como responsável pelo programa de economias rurais.
Foi nessa qualidade que, em 1974, levou os alunos a uma visita de estudo às paupérrimas zonas rurais do Bangladesh, onde emprestou dinheiro do próprio bolso a um grupo de artesãs de cestas de bambu da cidade de Jobra para que pudessem expandir o negócio. Não foi muito dinheiro: apenas o equivalente a 21 euros. E para dar mais impacto àquela pequena soma, ofereceu-se para servir de avalista daquelas mulheres num empréstimo de maior monta num banco tradicional, dando vida à ideia de criar uma "empresa de aldeia", inicialmente chamada Grameen Project (que se poderá traduzir por Projecto da Zona Rural, ou da Aldeia).
"Ao princípio não julguei que aquilo tivesse algum significado num contexto mais amplo", avaliaria numa entrevista dada à BusinessWeek em Dezembro passado. Até hoje, Yunus e o Grameen Bank já emprestaram um total de 4500 milhões de euros a 6,6 milhões de pessoas, tendo espalhado o microcrédito por todo o Bangladesh, pela Ásia do Sul e muito do restante mundo em desenvolvimento.
Yunus tem uma impressionante colecção de prémios (62), destacando-se entre eles o World Food Prize, o prémio Simón Bolívar atribuído pela UNESCO e também o galardão Príncipe das Astúrias, todos concedidos durante a década de 1990. Com o reconhecimento que ontem lhe foi feito pela Academia, tornou-se no primeiro cidadão do Bangladesh a ganhar um Nobel, e o terceiro bengali a fazê-lo, depois do poeta indiano Rabindranath Tagore (Literatura, 1913) e do economista, também indiano, Amartya Sen (Economia, 1998). D.F.

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