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Encharcada pelas primeiras chuvas outonais, que me tinham
apanhado desprevenida, aguardava calmamente, a minha vez de ser atendida, na
pequena tabacaria de bairro, onde habitualmente encomendamos os livros escolares
para os nossos filhos.
À minha frente, um Pai com forte acento nortenho,
comentava para as duas filhas:
Imaginem agora, o que pagará um Pai com 4
filhos
ainda se isto fosse só no início do ano lectivo!
mas vai ser todo
o ano sempre a pingar
Sorri-lhes com ar de grande compreensão.
Chegou depois a minha vez.
Paga a conta (a módica quantia de 41.000$00!), apenas de
parte dos livros encomendados para dois dos nossos sete filhos ( a mais nova no
6ºano e o seguinte no 8º ano, respectivamente do 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico), fiquei sabendo que me
iriam tentar arranjar mais outros dois livros ainda em falta e que os livros
ingleses deveriam ser procurados numa das livrarias estrangeiras da nossa cidade.
Suspirei, tristemente conformada e consciente de que ainda
faltavam os livros para outra filha, aluna do 10º, para não falar dos que estão
na Faculdade.
Amavelmente, a senhora que me atendia, apressou-se a
oferecer-me uma esferográfica, quando eu, talvez nervosa pela conta, procurava
em vão, encontrar uma caneta no fundo da carteira, para lhe passar um cheque.
Simpaticamente, a mesma senhora ia-me dando alguns
esclarecimentos:
Sabe? Agora os livros até são feitos para durarem mais
tempo
no 1º e 2º Ciclos de Ensino Básico, as escolas têm de manter os
mesmos livros durante quatro anos - com excepção dos livros de Inglês - e
durante três anos nos restantes Ciclos. Sempre dá para os Pais que têm mais
filhos poderem aproveitar os livros duns filhos para os outros
É verdade, mas alguém depressa se lembrou de como
contornar a questão e assim, os livros começaram, cada vez em maior número,
a aparecer com espaço para exercícios intercalado no meio de informações
teóricas, pelo que se o livro for usado por um irmão, o seguinte recebe
o livro todo escrito; noutros casos ainda, o livro de fichas de exercícios só se vende juntamente com o livro de texto, pelo que em
ambas as situações os Pais lá acabam
por ter de voltar a comprar os livros todos
Pergunto apenas: mas será que também aqui, ninguém se
lembrará das Famílias Numerosas?
Será que os livros escolares não poderiam ser menos
caros (recordo que a média do custo dos livros para o 2ºe 3º CEB's é de
cerca de 2.500$ por livro!)?
E apesar do convénio que obriga todos os livreiros a
praticarem os mesmos preços, não seria possível fazer um pequeno desconto
às Famílias Numerosas?
E os livros escolares usados, mas ainda em bom estado, não
poderiam ser recuperados pelas
escolas e livrarias, e vendidos a preço de saldo?
Aqui fica um apelo aos editores, livreiros, livrarias e
hipermercados
quem quererá iniciar uma política de apoio às Famílias
Numerosas também no campo dos livros escolares?
E já agora, por que não, nós mesmos - Pais desta
Associação de Famílias Numerosas - fazermos um Banco de Livros Escolares
usados, mas ainda em bom estado, publicitando e trocando entre nós, os livros
de que os nossos filhos já não necessitam, mas que ainda poderão ser úteis a
outros?
Fátima Fonseca
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