NOTÍCIA

Público última hora, 'Mulheres portuguesas gostariam de ter em média três filhos'

publicado a 11/05/2009

Público última hora - 11 Mai 09 

Estudo da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas
Mulheres portuguesas gostariam de ter em média três filhos
Romana Borja-Santos

Se os filhos fossem apenas uma questão de vontade as mulheres portuguesas queriam ter, em média, três. Mas há vários factores que as levam a pensar ter apenas um, dois, ou mesmo nenhum, fazendo com que a média se situe apenas nos 2,1. As razões que justificam esta diferença entre desejo e concretização são descritas pela Associação Portuguesa de Famílias Numerosas num estudo publicado hoje.

Intitulada "Número de Filhos", a sondagem demonstra que "o número desejado de filhos é francamente superior a 2,1 em todas as faixas etárias". Por isso, o presidente da APFN, Fernando Ribeiro e Castro, defendeu, em declarações ao PÚBLICO, que em Portugal o que falta é "criar condições que permitam a concretização deste desejo", pois o que está em causa é a "imprescindível substituição de gerações e a sustentabilidade do país".

De acordo com o documento, mais de 50 por cento das jovens entre os 18 e os 24 anos gostaria de ter três ou mais filhos, enquanto um quarto das mulheres até aos 30 gostaria de ter quatro ou mais. Ainda assim, verifica-se uma diferença entre as pessoas que estão casadas ou que vivem em união de facto, que "parecem desejar ter menos filhos que as casadas". Apesar disso, apenas 17 por cento das mulheres pensa que concretizará o desejo de ter três ou mais filhos.

"As maiores diferenças entre o número desejado de filhos e os que pensam vir a ter estão nas mulheres entre os 25 anos e 34 anos", diz também o estudo. A principal razão é a percepção de que os "os filhos são caros e que as pessoas não têm condições para suportar alimentação, vestuário e despesas escolares".

Licença parental não é o mais importante

Além das questões financeiras, as pessoas entrevistadas admitem que é difícil encontrar um trabalho que lhes permita continuar a acompanhar os filhos e conciliar tudo com a vida conjugal. Neste ponto o presidente da APFN critica o facto de as famílias divorciadas terem mais benefícios, o que contribui para a instabilidade. Em terceiro lugar surge a ideia de "quero dar-lhes tudo aquilo que não tive" e em quarto as questões relacionadas com a habitação.

A proximidade entre casa, emprego e escola é também um dos problemas mencionados. Aqui, segundo a APFN, seria muito importante que as autarquias apostassem mais nas habitações para famílias do que para jovens, pois são os primeiros que "precisam de viver no centro da cidade", explicou o presidente da associação. "As questões relacionadas com mais licenças de trabalho são percepcionadas pelas mulheres como de última ordem", referem os autores. Sobre esta questão, Fernando Ribeiro e Castro pede uma apreciação prudente: "Isto significa que as famílias estão satisfeitas com o que foi feito neste domínio e não que o desvalorizam".

Quanto a apoios financeiros em sede de IRS que podiam contribuir para que os casais tivessem mais filhos, os pais valorizam especialmente as deduções das despesas essenciais dos filhos e de despesas com educação e habitação, assim como pedem um aumento do abono de família - que devia ser de pelo menos 100 euros por cada filho, independentemente da situação económica, estado civil dos pais ou número de irmãos. No que diz respeito a apoios escolares, os pais colocam em primeiro lugar a possibilidade de verem paga a escola ou creche que escolherem, o que para a APFN é uma questão de "liberdade" e mais barato do que "investir milhões da modernização das escolas".

Se olharmos para os dados agrupados por tendências partidárias, mantêm-se as mesmas percepções gerais. Mas as inquiridas que votaram PSD consideraram mais apelativa a opção de ficar em casa com uma remuneração, do que as mulheres que apoiam outros partidos. Esta generalização de vontades é sinal, para Fernando Ribeiro e Castro, que as necessidades dos pais são transversais às cores partidárias e que, por isso, o Governo está também a ir contra os seus eleitores.

A sondagem foi feita entre 19 de Fevereiro e 3 de Março a 829 mulheres entre os 18 e os 49 anos, residentes em Portugal e com telefone fixo. A margem de erro é de 3,5 pontos e o grau de confiança de 95 por cento.